quarta-feira, 1 de agosto de 2012

carta para um amigo que pensa em se matar


não tenha receio de andar na chuva, escute o que seus pianos impecáveis podem fazer quando em queda-livre sobre a gente. não espere que a vida seja uma primavera, pois ela infelizmente não é. não espere que a vida seja uma primavera, porque ela talvez nunca foi. ou porque talvez ela nunca tenha sido. mas porque às vezes ela, simplesmente, pode ser. entre no inverno, convide-o a entrar em sua casa, não bata as portas ou fecha janelas na sua casa. porque onde a gente vive é inverno, viver são as suas esperas. abra as portas, as jenelas e deixe que ele entre, sem temores ou receios do que esse inverno parecer capaz. entre no inverno sem dúvidas de sua duração, direção ou mesmo intensidade. entre propícios a escutar os seus gritos, não tampe os ouvidos para a fria chuva fria de suas noites. quando sozinho abra seus braços para que o temporal grita lá fora. e repare em cada nuance precisa, súbita dos gritos, escute com atenção, mesmo com o que não quiser ouvir a tua intuição - e dance - simplesmente quando andar na chuva, dance. sem todo o cuidado que houver, porque entre os gritos cinzas aguarda um outro som, um som que ninguém que ficar em casa irá ouvir. som que parecerá mínimo no início, e que talvez nem cause uma dedicada impressão, mas que será diziam inúteis antes de surgirem nas noites insuportavelmente mais sóbrias, quando já não havia mais possibilidade alguma de lua no céu. o desejo de luz que se faz é de toda a sede que da gente se espera, e que nos impera por ainda lembrar a possibilidade de brilho e ardor que virá, e de toda aquela ternura que tantas vezes lida, ouvida ou mesmo cantada, só então finalmente será escrita, ali bem à nossa frente. a ternura que enfiam será compreendida, quando as promeiras estrelas chegarem, dizendo o quanto a luz foi filha de distâncias escuras. ternura é o que te fará lembrar que duranre a chuva, um som de suspiro pode alcançar alturar em belezas impossíveis, muito mais que os gritos de qualquer inverno. nesse dia você entenderá que a promavera chega, n]ao por você. mas por tudo que você for capaz de fazer ouvir, cantar, gritar, suspirar, arder e aclarar em si mesmo, no dia em que ela chegar.

tudo que não sei sobre o amor - Fernando Koproski

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